25 de Julho de 1940 – 15h42
Ele veio... com a voz embargada, os olhos buscando os meus, implorando perdão. Aceitar ou não? Eis a cruel balança que pesa em meu coração.
Disse-lhe que precisava de tempo para pensar... Não quero atirar-me de cabeça, mas a ideia de perdê-lo me assombra. Que tormento! Preciso da sensatez de Júlia...
E lá fui eu, buscar o conselho da minha amiga. Ela, com sua vivacidade costumeira, me disse:
— Vai em frente, querida! Se ele se humilhou em pedir desculpas, é porque o remorso o corrói. Se fosse você, não deixava essa chance escorrer pelos dedos.
— Tem razão, Juju... O tempo urge, e meu coração anseia por ele. Se o amor que ele professa é verdadeiro, se o arrependimento é genuíno, então... sim, eu o perdoarei. E assim fiz!
Desculpei meu Pedro, e uma alegria tênue floresceu em meu peito. Mas eis que uma sombra cruel se abate sobre essa felicidade incipiente: ele irá sair com Débora... minha rival declarada. Por que, meu Deus? Como pode me pedir perdão, estarmos a namorar, e ele se dispor a sair com outra? E, para piorar a situação, com a víbora da minha inimiga!
Preciso desvendar esse mistério!
Em minhas investigações furtivas, descobri a verdade amarga: ele perdera uma aposta para o David. Menos mal, confesso! Mas por que não me contou? Por que essa omissão que me fere tanto?
Agora, duas estradas se abrem diante de mim: fingir ignorância, deixando a máscara cair por si só, ou confrontá-lo, exigindo uma explicação para essa conduta ambígua.
Qual caminho trilhar? A decisão está tomada... Falta apenas a coragem, essa companheira esquiva. Mas tentarei, mesmo que o medo da resposta me paralise."
— O que você está fazendo aí, minha filha? A voz suave de mamãe me sobressaltou.
— Estou lendo um diário que encontrei, mamãe. Uma curiosidade pueril disfarçando a angústia.
— Ah, é? Acho que a dona desse diário não gostaria que alguém o lesse... Mamãe sempre zelava pela privacidade alheia.
— Acho que não... Ele é tão antigo, deve pertencer a alguém que já partiu para o céu! Uma tentativa vã de desviar o assunto.
— Deixe um pouquinho e venha me ajudar com o jantar, seu pai chegará cedo hoje, e quero que tudo esteja pronto para recebê-lo... O carinho de mamãe era um bálsamo em meio à minha confusão.
— Está bem, mamãe. Obedeci, embora meus pensamentos ainda pairassem sobre Pedro e Débora.
Não era sempre que papai jantava em casa. Quando essa rara oportunidade surgia, mamãe se esmerava em preparar uma refeição especial, um ritual de união familiar que aquecia nossos corações.