quarta-feira, 11 de maio de 2016

Tempos de Colegial Capítulo 82

Laços de amor e desafios 


— Sério?! — Kássio começou, seu tom misturando incredulidade e frustração. — É sério que você vai fingir que não sabe do que eu estou falando?  
— Eu sei, Kássio. Eu sei que o que eu fiz não foi certo — admiti, sem conseguir encará-lo diretamente. — Sei que não devo satisfações ao seu pai, mas eu cansei. Cansei de vê-lo se meter na nossa vida, de vê-lo te incomodar, e você não fazer nada. E, acima de tudo, eu cansei de ser um problema na sua vida.  

Kássio balançou a cabeça, os olhos presos nos meus: — Emi, você não é o problema. Meu pai é. Eu sei que você só queria consertar as coisas, mas você não precisa enfrentar os meus problemas por mim. Eu sei como lidar com ele. Você não precisa se preocupar comigo.  

— Mas eu me preocupo, Kássio! — rebati, a voz embargada. — Eu não aguento essa situação. Você sabe que eu não consigo presenciar tudo isso e ficar de braços cruzados. Eu quero te ajudar.  

Ele segurou minhas mãos com firmeza, mas o tom dele era claro: — Eu sei que você quer ajudar e te agradeço por isso, de verdade. Mas não quero que você se envolva com o meu pai.  

Meu peito apertou, e com hesitação perguntei: — Por quê?  

Ele desviou o olhar, como se as palavras pesassem ainda mais que o silêncio: — Porque ele é manipulador. Ele sabe como virar a cabeça das pessoas. Por favor, Emi, fique longe dele.  

Respirei fundo, tentando controlar as lágrimas: — Tudo bem. Se é isso que você quer.  
— Não é sobre o que eu quero — Kássio corrigiu, sua voz quase um sussurro. — É sobre o que tem que ser.  

Assenti, com um nó na garganta: — Tudo bem, eu entendo.  

Mas entender não tornava as coisas mais fáceis. Ele saiu sem dizer mais nada, deixando uma trilha de silêncio pesado atrás de si. Minha mãe, que estivera observando tudo, permaneceu na sala. E pela expressão dela, sabia que estava prestes a ouvir o que ela pensava.  

— Pode mandar a bronca, mãe — murmurei, já esperando o sermão.  

Sara cruzou os braços, o rosto sério: — Você acha que não merece? Eu só queria saber o que passa na sua cabeça, Emília.  

Levantei as mãos, tentando me defender: — Mãe, olha...  
— Eu ainda não terminei de falar! — interrompeu ela, com firmeza.  

Suspirei, exasperada: — Nem precisa. Eu já sei o que a senhora vai dizer e, sinceramente, não quero ouvir. Cansei de todo mundo se meter no meu relacionamento com o Kássio. Cansei de todo mundo achar que pode resolver nossa vida por nós. Eu cansei de ter que argumentar com você sobre o meu futuro. Essa é a minha vida e eu quero decidir por mim mesma o que fazer dela.  

Ela esperou um momento antes de perguntar, com calma: — Terminou?  

Olhei para ela, ainda irritada: — Não. Tem muito mais, mas vou parar por aqui. A senhora me ensinou a respeitar os mais velhos.  

Sara respirou fundo antes de falar: — Ótimo. Agora é minha vez, e você vai ouvir. Não me interrompa. Eu não sou contra o seu relacionamento com o Kássio. Talvez tenha sido intransigente no início, mas minha opinião sobre ele mudou. O problema não é o Kássio. É essa ideia absurda de vocês se casarem. Não acho que estejam prontos para assumir esse tipo de compromisso.  

Eu olhei para ela, tentando ser paciente: — Mãe, ninguém nunca está pronto para compromissos desse tipo. Mas as pessoas assumem mesmo assim. Construir e manter uma família é difícil, mas na vida a gente tem que assumir riscos. Senão, acabamos nos arrependendo de não viver como queremos. Eu amo o Kássio e vou me casar com ele. Que vai ser difícil, vai. Mas a vida é assim.  

Sara abaixou o olhar, sua voz tremendo levemente: — Eu só não quero que você se magoe, filha.  

Segurei suas mãos e disse com sinceridade: — O Kássio nunca me magoaria, mãe. Ele me ama e eu o amo. Vamos casar e ser muito felizes.  

Ela finalmente sorriu, resignada: — Mesmo assim quero que saiba que vou estar aqui para o que você precisar.  

Abracei minha mãe como há muito tempo não fazia. Aquele gesto significava tanto para mim. Eu estava feliz, porque meu sonho de casar com Kássio estava se tornando realidade. Mas saber que minha mãe finalmente me apoiava tornou tudo ainda mais especial.  

Com a data do casamento marcada para dois meses, uma felicidade indescritível tomou conta de mim. Mas também uma melancolia. A ausência da minha irmã, Sami, pesava no meu coração. Eu queria que ela fosse minha madrinha, mas isso não seria possível.  

Ao mesmo tempo, um sentimento de inquietação me acompanhava. Eu tinha medo que o senhor Antônio fizesse algo para impedir nosso casamento. Kássio parecia imune a ele agora, mas eu não conseguia afastar essa angústia. Era como um pressentimento de que algo ruim estava por vir.  

Queria compartilhar isso com alguém, mas temia que fosse interpretado como simples nervosismo pré-casamento. Eu sabia que não era. Era algo mais profundo, um aviso que ecoava dentro de mim. E o mais aterrorizante era não saber como impedir.  

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