quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Estranhos Conhecidos Capítulo 06


O aroma sutil de cloro ainda pairava no ar quando Daniel finalmente se instalou no anexo da piscina. Contudo, a sombra da inflexibilidade do tio Lucas pairava sobre a recém-descoberta liberdade de Mila. A severidade de dona Maura, designada como guardiã temporária, contrastava fortemente com o espírito livre da garota. Felizmente, a rigidez da senhora não era páreo para a alegria contagiante da turma de Mila, que a convidou para uma festa.
Naquela fatídica noite, enquanto o tio Lucas cumpria seu plantão, dona Maura, alheia aos planos que se tramavam, cochilava profundamente no sofá. A oportunidade acendeu um brilho travesso nos olhos de Mila. Com um gesto silencioso, chamou Daniel para a cozinha, o convite para a aventura dançando em seus lábios.
Num movimento fluido, o roupão escorregou de seus ombros, revelando um segredo vibrante. Um vestido cor-de-rosa, como um sussurro de verão, abraçava suas curvas com uma delicadeza etérea.
— Ah, então essa maquiagem toda tinha um propósito! — exclamou Daniel, a surpresa colorindo sua voz.
— Vamos? — o convite era um fio de expectativa no ar.
— E se dona Maura acordar? A voz de Daniel carregava uma ponta de apreensão.
— Tio Lu confiou em mim, então eu já cuidei de tudo. Vários travesseiros aconchegados sob o lençol, uma peruca com a cor exata dos meus cabelos repousando sobre eles... Ela não vai desconfiar. E você? Ela nunca sequer olhou para a casa da piscina, relaxa. Vamos, vai ser demais!
— Mas... e se o seu tio voltar? A dúvida persistia.
— Sem "e se"! Meu tio não volta hoje. Anda logo, ou vou começar a achar que você é mesmo um chato de galocha! O tom de Mila era divertido, mas com uma pitada de impaciência.
— Tá bom, tá bom! Daniel se rendeu com um sorriso.
— Ótimo! Vai se aprontar, te espero lá fora. Sem carro, pra não acordar a pluma adormecida da dona Maura. Shhh! Mila sibilou, o dedo nos lábios.
— Só uma coisa... — Daniel sussurrou, aproximando-se.
— O quê?
— Eu não tenho convite. Uma ruga de preocupação surgiu na testa de Daniel.
— Ai, Daniel, você sempre complica tudo! Eu tenho convite, e a lista de acompanhantes é generosa. Mila revirou os olhos, mas um sorriso logo suavizou suas feições.
— Então te encontro lá fora. A promessa pairava entre eles.
— Seja breve! O pedido de Mila era um misto de urgência e excitação.
Enquanto a ansiedade borbulhava em suas veias, Mila acenou para um táxi. Para sua surpresa, Daniel já surgia na esquina, a camisa azul bebê contrastando elegantemente com o terno preto, a ausência da gravata conferindo um ar de rebeldia charmosa.
— Preciso te dizer uma coisa... Não tive chance lá dentro. A voz de Daniel era um murmúrio carregado de significado.
— O quê? Dona Maura acordou? O pânico brilhou nos olhos de Mila.
— Não, não é nada disso. O que eu não disse é... A pausa de Daniel era carregada de uma eletricidade palpável.
— O quê? Estou com a maquiagem borrada? Meu cabelo está um ninho? A insegurança de Mila era um sussurro hesitante.
— Não! Você está... linda. Era isso. Absolutamente linda. A intensidade do olhar de Daniel fez o coração de Mila palpitar.
— Oh... obrigada! Você também está muito bonito. As outras garotas vão morrer de inveja quando me virem chegar com você. O calor subiu ao rosto de Mila, tingindo suas bochechas de um rosa suave.
— Então vamos logo acabar com a agonia delas. O humor de Daniel era um alívio divertido na tensão crescente.
A gargalhada de Mila foi abafada pelo súbito vislumbre de dona Maura espreitando pela janela. O medo agiu como um propulsor, impulsionando os dois em uma fuga silenciosa até a esquina, onde o táxi os aguardava.
— Isso é tão... emocionante! Nunca fugi de casa antes. Tomara que a dona Maura não perceba o buraco de travesseiros na minha cama. A adrenalina da aventura faiscava nos olhos de Mila.
— A gente não precisava ter fugido... Daniel ponderou, mas a intensidade do momento o impediu de elaborar.
— Tá brincando, né? Meu tio jamais me deixaria ir a essa festa. Ainda mais... com você! A afirmação de Mila era carregada de uma verdade tácita.
— Por que não comigo? A curiosidade picou Daniel. Por que tio Lucas não me aprovaria? A pergunta ecoava em sua mente.
— No que você está pensando? Mila percebeu a breve ausência no olhar de Daniel.
— Nada... O táxi está demorando, não acha? Por que não vamos de moto? Posso empurrar ela até aqui. A sugestão de Daniel era um fio de impaciência.
— Eu sei que está demorando, mas moto? Nem pensar! Vai arruinar meu cabelo, e eu me recuso a chegar despenteada. E, por favor, que não nos atrasemos! Odeio chegar atrasada. A preocupação de Mila era genuína.
— Nesse caso... talvez seja bom chegarmos um pouco depois. Um sorriso enigmático brincou nos lábios de Daniel.
— Por quê? A curiosidade de Mila foi despertada.
— Porque quando chegarmos, todos os caras vão ver que a garota mais linda da festa está... comigo. A confiança de Daniel era um calor reconfortante.
— Ai, Daniel... muito obrigada! Uma onda de calor invadiu o rosto de Mila.
— O táxi está vindo. A urgência os impulsionou de volta à frente da casa, esgueirando-se nas sombras para evitar os olhos atentos de dona Maura.
— Finalmente! O alívio de Mila era palpável.
A chegada foi exatamente como haviam previsto. Um silêncio repentino engoliu a música, e todos os olhares se voltaram para a dupla que irradiava uma energia vibrante.
A onda de atenção diminuiu, permitindo que a festa os envolvesse.
— Mila, quer dançar? O convite de Daniel era um sussurro suave na multidão.
— Quero! O rosto de Mila irradiava alegria pura.
Enquanto seus corpos se moviam em sincronia, alheia à tempestade que se aproximava, Gisele surgiu como uma sombra, um "tropeço" calculado resultando em líquido escuro manchando o vestido de Mila. A surpresa a deixou momentaneamente atordoada.
— Oh, me desculpe, Mila! Que desastrada eu sou! Tropecei e... ai, que pena do seu vestido. A voz de Gisele era carregada de uma falsa preocupação.
— Tudo bem, Gisele. Sei que não foi de propósito. A resposta de Mila era um escudo de cortesia por trás do qual a irritação fervia.
— É melhor você limpar logo, antes que manche. Senão, vou me sentir ainda mais culpada. A sugestão de Gisele tinha um tom venenoso.
— Já volto, Daniel. Guarda essa dança pra mim. Mila se desvencilhou dos braços dele com um sorriso forçado.
No refúgio do banheiro, Jéssica encontrou a amiga, a máscara de Mila rachada, revelando a fúria borbulhante.
— Amiga, o que aconteceu? Que cara é essa? A preocupação de Jéssica era um afago.
— Aquela idiota da Gisele... derramou bebida no meu vestido! Os olhos de Mila brilhavam com raiva contida. — Que ódio daquela nojenta!
— Calma, amiga. Não deixa ela te atingir. E, principalmente, não deixa ela perceber que conseguiu. Jéssica tentava acalmar os ânimos exaltados.
— Eu não consigo! Parece que vou explodir de raiva. A voz de Mila tremia, um esforço para manter a compostura. — Minha vontade é de arrancar os cabelos dela!
— O que você vai fazer é respirar fundo, limpar esse vestido maravilhoso e aproveitar essa festa que está incrível. O tom de Jéssica era firme, encorajador. — E, por favor, não deixa ninguém te ver assim. Raiva é feio, e você tem que continuar linda e maravilhosa para dançar com aquele príncipe encantado que veio com você.
— Você tem razão... toda a razão. Não vou deixar aquela estúpida estragar o resto da minha noite com o Daniel. Mila respirou fundo, a determinação renascendo em seus olhos.
— Isso! Agora vai lá e dança com ele até seus pés doerem. Jéssica sorriu, orgulhosa da amiga.
Com o vestido razoavelmente limpo, Mila retornou à pista de dança, a expectativa de reencontrar Daniel acendendo um brilho em seus olhos. Mas, ao ser avistada por Gisele, o choque a paralisou. Um beijo ardente era trocado entre Daniel e a intrusa, esmagando a alegria de Mila em pedaços. Sem conseguir conter as lágrimas que agora jorravam, ela correu para a saída, buscando a invisibilidade na multidão. Daniel a viu partir e tentou segui-la, mas os braços de Gisele o prenderam.
— Ei, aonde você pensa que vai? Gisele o puxou para perto, o corpo colado ao dela. — Não vai me deixar sozinha na pista, vai?
— Não... — Daniel sussurrou, o olhar fixo na porta por onde Mila desaparecera.
Enquanto a música os envolvia, Mila alcançava a segurança da rua, correndo pelas sombras até sua casa. A sorte parecia estar ao seu lado, pois dona Maura dormia profundamente. Sem hesitar, Mila escalou a janela de seu quarto, buscando o conforto familiar de sua cama, onde as lágrimas finalmente encontraram vazão no travesseiro macio.
Assim que a oportunidade surgiu, Daniel correu para casa, o coração apertado. Dona Maura parecia adormecida em seu sono pesado. Com cuidado, abriu a porta, agradecendo mentalmente pelas dobradiças silenciosas. Moveu-se pela sala como uma sombra, em direção às escadas, as costas raspando a parede. Mas o destino tinha outros planos. Dona Maura acordou, sobressaltada pela figura hesitante subindo os degraus.
— O que você está fazendo aqui? A voz de dona Maura era um misto de surpresa e apreensão.
— Ouvi um barulho e... vim ver se estava tudo bem. Daniel respondeu, o olhar fixo na senhora, uma ponta de ansiedade na voz.
— E então? A pergunta era um eco no silêncio da noite.
— Nada... Não encontrei nada aqui embaixo, então ia subir para verificar o andar de cima. Espero que a Mila não tenha acordado com todo o barulho.
— Não se preocupe, eu vejo se está tudo bem lá em cima. Dona Maura já subia as escadas, em direção ao quarto de Mila.
A senhora vasculhou o andar superior, cada canto, sem encontrar nada fora do lugar. Bateu na porta do quarto de Mila, chamou, mas o silêncio foi sua única resposta. Deve estar dormindo... Não vou incomodar. O cansaço a venceu.
— Escute, rapazinho. Vou para minha casa, estou exausta. Amanhã cedo venho ver como a menina está. Vá para casa você também, já é muito tarde.
— Eu acompanho a senhora até em casa. A oferta de Daniel era um fio de esperança.
— Oh, muito obrigada. Que gentileza a sua! Dona Maura sorriu, aliviada.
— Disponha.
Daniel caminhou ao lado de dona Maura, certificando-se de que ela estaria segura em sua casa e, principalmente, que não retornaria para interromper o encontro que ansiava ter com Mila. Assim que a porta se fechou atrás da senhora, ele correu de volta para a casa da piscina, contornou a casa principal e, com agilidade, escalou a janela do quarto de Mila.
Mila se virou bruscamente, o susto estampado em seu rosto, os olhos marejados encontrando a figura de Daniel.
— O que você está fazendo aqui? A voz de Mila era fria, cortante.
— Eu vim explicar o que aconteceu na... Daniel tentou se justificar, mas foi interrompido.
— Não precisa me explicar nada! A voz de Mila era firme, um muro erguido entre eles. — Sai do meu quarto.
— Mila, eu não tive culpa. Ela me pegou de surpresa. O desespero era palpável na voz de Daniel.
— Já disse que não tem que me explicar nada. A repetição era um eco de sua dor. — Sai do meu quarto, por favor. A súplica final era um sussurro fragilizado.
— Se você me der uma chance, eu posso te explicar tudo. Ela me beijou, mas eu não correspondi. Porque ela não é a garota que vive no meu coração, nos meus pensamentos. Essa garota é você, Mila. Eu sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas foi o suficiente para eu me apaixonar por você. Eu não disse nada porque tinha medo... medo que você não sentisse o mesmo, medo que me visse apenas como um amigo. Mas eu te amo, desde o primeiro instante em que te vi. Esta é a primeira vez que estamos realmente sozinhos desde aquele dia, e eu precisava te dizer... como me sinto. A confissão de Daniel era um rio de emoção.
— Você fala demais! E ainda bem, porque eu não teria coragem de dizer essas coisas. Não é que eu não goste de você... é que as palavras ficam presas na minha garganta. Mas quando eu vi você e a Gisele... aquilo foi demais para mim. Eu não consegui aguentar, não pude me conter. A verdade é que eu nunca me senti assim antes. Minha pele queima onde você me toca. A simples pressão da sua mão na minha me faz estremecer. Eu te amo, Daniel. E eu não quero que você beije a Gisele... nem nenhuma outra garota além de mim. A torrente de emoções de Mila finalmente encontrou vazão.
— Eu não quero nenhuma outra garota, só você. Meu pulso acelera só de estar perto de você, Mila. E é por isso que eu preciso te perguntar uma coisa. A voz de Daniel tremia com a intensidade de seus sentimentos.
— Que pergunta? O coração de Mila batia descompassado.
— Mila... você quer ser minha namorada? O pedido era um sussurro carregado de esperança.
— Quero! É claro que eu quero! O rosto de Mila irradiava uma felicidade radiante.

Finalmente, o nó se desfez, e Daniel e Mila encontraram um no outro o que tanto buscavam. Mas será que essa felicidade recém-descoberta resistirá aos imprevistos da vida? Não perca o próximo capítulo para descobrir!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe um comentário.
Por favor, não use palavras de baixo calão, caso contrário seu comentário será excluído. Ok?

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Publicidade

Arquivo do blog