20 de Julho de 1940 – 01h01 da madrugada
Confesso que rabiscar nestas páginas não é lá meu forte, mas hoje, um vazio tão grande apertou meu peito que senti um impulso... Lembrei-me então da gentileza da tia Marlene, que me presenteou com você no meu aniversário.
Faz tempo já que essa sombra me acompanha. Sinto a vida esvaziada de cor, sem rumo certo. A vontade me abandona, e o único refúgio parece ser a cama, acredite, não por preguiça! Às vezes, um nó na garganta me aperta, querendo ser choro, mas as lágrimas teimam em não vir.
Tudo começou com um rapaz... Pedro é seu nome, dezessete anos, a mesma idade que a minha. Desde sempre, meu coração palpitava por ele. Até que minha prima, com aquela desenvoltura toda, me contou que eu também mexia com os sentimentos dele. Ah, diário, fiquei na doce espera de um aceno, um olhar que confirmasse o que meu coração já sabia. Não pedia mundos, apenas que ele viesse a mim, com a coragem de um homem, e dissesse o que sentia. Em vez disso, usou de um artifício cruel, cortejando minha melhor amiga, numa tentativa mesquinha de despertar meu ciúme. Talvez uma parcela dessa amargura seja minha, por não ter tido a ousadia de confessar meus próprios sentimentos. Mas nada justifica essa infantilidade!
Por que, meu Deus, os homens às vezes se mostram tão imaturos? Detesto essas artimanhas de provocar ciúme no ser amado... Coisa de folhetim radiofônico!
Agora, sinto-me à deriva, sem conseguir seguir em frente, mesmo acreditando ter superado aquela paixão juvenil. Acredite se quiser, diário, superei, mas o amor... ah, esse ainda reside em algum canto do meu coração. Não sei o que fazer para varrê-lo de vez. Tentei seguir aquele velho ditado, “um amor cura outro”, mas em mim, essa receita não funciona.
Na vã tentativa de esquecer Pedro, aceitei o pedido de namoro do Carlos. Que tolice a minha! Magoei um bom rapaz, e essa culpa me corrói. Acho que tentei replicar com Carlos a mesma dor que Pedro me infligira. Mas foi em vão. Não consegui sequer pousar meus lábios nos dele sem sentir a falta de um certo brilho nos olhos, de um certo arrepio na alma. Como aquelas atrizes de cinema conseguem beijar aqueles galãs de tirar o fôlego sem sentir um átomo de amor? Para mim, é um mistério!
Mesmo assim, Carlos é um rapaz de boa estampa, aposto que tem um batalhão de moças suspirando por ele. Que encontre logo a donzela certa para seu coração.
Sabe de uma coisa, meu caro diário? Não vou mais me afogar nessa melancolia. Vou sacudir a poeira, sair, espairecer e, quem sabe, encontrar um novo amor, um amor de verdade, que me veja como realmente sou.
O importante é que eu me amo, e essa certeza me acende uma chama de esperança. Encontrarei alguém que me ame com a mesma intensidade, e a quem eu possa entregar meu coração sem reservas.
Foi bom desabafar contigo, meu confidente de papel. Mas não se iluda, não pretendo transformá-lo em meu companheiro diário de lamúrias!
Mas isso não quer dizer que o procurarei de vez em quando. Um beijo... e até a próxima página!
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