Laços quebrados
— Eu não tenho que te dar satisfações! — Kássio rebateu, com o tom seco, os olhos faiscando de irritação.
— Emi, o que esse cara está fazendo aqui? — Noel disparou, ignorando completamente Kássio e voltando sua atenção para mim.
Senti o peso da tensão no ar e tentei apaziguar, mesmo que minha própria dor estivesse sufocando.
— Por favor, Noel, não começa!
Ele recuou ligeiramente, mas ainda havia algo no semblante dele, um misto de ciúmes e inquietação.
— Desculpa, Emi. Eu só vim te dar os meus pêsames. Eu realmente sinto muito pela sua irmã. — Suas palavras foram um pouco mais suaves, e algo na sinceridade dele me fez baixar a guarda por um momento.
— Obrigada, meu amigo. É muito bom ter os amigos por perto em horas difíceis.
Noel hesitou antes de continuar, o olhar carregado de algo mais profundo:
— Você sabe que, se quiser, eu posso ser mais que um amigo.
Minha respiração vacilou. A última coisa que eu precisava naquele momento era lidar com sentimentos complicados.
— Agora não, por favor, Noel.
— Você é muito inoportuno mesmo! — Kássio interrompeu, com a voz cortante. — Você não tá vendo que a Emi está sofrendo?
— Eu não tenho que te ouvir! — Noel respondeu, devolvendo a provocação. — Por que você ainda está aqui?
— Eu estou aqui por causa da Emi. Prometi à mãe dela que iria cuidar dela, e é exatamente o que eu vou fazer!
Noel deu um passo à frente, o desafio claro em seu olhar.
— Você não precisa mais ficar, porque eu já cheguei e posso fazer companhia pra Emi. Então, se quiser ir embora, já pode!
Kássio respirou fundo, como se lutasse contra a vontade de responder de maneira mais agressiva.
— Eu não vou discutir com você, em respeito à Emi, à mãe dela e à irmã dela, que foi minha melhor amiga. Por isso, fica na tua!
A tensão entre os dois era insuportável, mas tentei me concentrar no que realmente importava.
— As meninas ainda não sabem o que aconteceu...
— Se você quiser, eu aviso a elas. — Kássio ofereceu, tentando mostrar que estava ali para ajudar.
— Tudo bem, pode avisar. Eu te agradeço muito.
Noel parecia inquieto, como se lutasse contra a ideia de deixar o campo livre para Kássio.
— Emi, infelizmente, eu tenho que ir para casa. Mas quero que saiba que, se precisar de algo, é só chamar. Tchau.
— Tchau. Muito obrigada.
Enquanto Noel se afastava, Kássio pegou o telefone e começou a ligar para nossas amigas. Pouco depois, elas chegaram, e eu finalmente senti um pouco do conforto que só a amizade pode trazer.
— Amiga, sinto muito. Saiba que pode contar comigo. — disse Danile, o rosto marcado pela preocupação.
— Sei sim, amiga. Obrigada.
Andreia hesitou, parecendo buscar palavras que não encontrava.
— Oh, minha amiga... Eu não sei o que te dizer.
Márcia foi mais direta, mas não menos carregada de emoção:
— A Sami vai deixar muitas saudades. Sinto muito.
Eu não conseguia conter as lágrimas. As memórias da Sami me inundavam, e com elas, um vazio avassalador.
— Ainda não acredito que a Sami não vai mais cuidar de mim, nem acordar fazendo barulho, nem ir para a escola comigo. Não sei o que vai ser de mim sem ela... Deus, por favor, traz a Sami de volta.
Kássio se aproximou, tentando me confortar.
— Não fica assim, Emi.
— Kássio, por favor, me ajuda! — implorei, a voz quebrada pela dor.
— Eu tô aqui, Emi. Não se preocupa, eu não vou te deixar.
Andreia interrompeu, sua voz um alerta suave.
— A sua mãe tá chegando, Emi.
Mamãe apareceu, seu rosto era uma mistura de luto e cansaço, mas havia algo nela que parecia buscar forças para nos unir.
— Já liguei pro pai da Sami. Ele está cuidando do velório.
Minhas palavras vieram com dificuldade, mas eu sabia que precisava dizer aquilo:
— Mamãe, por favor, me perdoa. Eu não queria dizer aquelas coisas.
Ela me abraçou com firmeza, como se estivesse tentando segurar o que restava de nós.
— Não precisa pedir perdão, filha. Está doendo em mim, tanto ou mais que em você. A Sami e você eram tudo pra mim... Agora, eu só tenho você.
Não havia mais o que dizer. Apenas sabíamos que o futuro seria marcado pela ausência da Sami.
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