Entre Abraços e Palavras Não Ditas
Revirei os olhos, irritada, e a voz saiu mais cortante do que eu pretendia.
– Não quero desabafar com você. Sai daqui, quero ficar sozinha.
Ele permaneceu onde estava, desafiando minha frieza.
– Não posso deixar você sozinha nesse estado.
Cruzei os braços, tentando parecer firme, mas as palavras saíram carregadas de mágoa.
– Não preciso da sua piedade.
– Não é piedade – ele disse com um tom calmo, mas decidido –, só não quero te deixar sozinha.
Soltei um suspiro cansado, derrotada pela insistência dele.
– Já que não tem jeito, pelo menos fica calado.
Imediatamente me arrependi do que disse. Eu sabia que estava sendo rude e ele não merecia aquilo. Noel só queria me ajudar, mas a angústia que eu sentia transbordava de um jeito que não conseguia conter. Apesar do meu mau humor, ele permaneceu ali, firme, e isso me encantava de uma forma que eu não estava pronta para admitir.
De repente, Noel se aproximou, ainda tentando me consolar. Sem dizer nada, ele me envolveu num abraço. Por um instante, fiquei imóvel, sem saber o que fazer. Depois, cedi. Deixei que ele me abraçasse, porque, naquele momento, precisava daquele conforto. Eu sabia que ele gostava de mim de um jeito diferente, mas minha mente ainda estava presa ao Kássio. O que sentia por Noel era apenas amizade – uma amizade que começava a florescer e que me fazia ser grata por ele estar ali.
Quando olhei na direção da sacada e vi o Kássio, meu coração apertou. Nunca imaginei que ele se tornaria tão importante para mim, mas, infelizmente, para ele eu parecia ser apenas uma sombra passageira.
– A festa acabou – murmurei, mais para mim do que para Noel. – Aposto que ele se divertiu a noite inteira com ela.
Noel olhou para mim com uma expressão que misturava compreensão e tristeza.
– E você queria estar ao lado dele.
– Não! – respondi rápido demais, a negação soando frágil até para os meus próprios ouvidos.
– Não minta, Emi. Está na sua cara. É por isso que você está triste.
Virei para ele, com a irritação borbulhando novamente.
– Por que você insiste em tocar nesse assunto?
Ele não se intimidou. Pelo contrário, havia uma firmeza gentil em sua voz.
– Eu não preciso tocar. Você é quem não consegue esquecer. Parece até que gosta de sofrer.
Senti a fúria crescer dentro de mim.
– Você não sabe de nada! Quem é você para chegar aqui e me fazer essas perguntas?
O silêncio caiu entre nós, pesado. Mas Noel, ao invés de recuar, sorriu de leve.
– Não precisa se irritar. Quero ser seu amigo, só isso. Quero te ajudar.
Suspirei, derrotada pela sinceridade dele.
– Me desculpa, Noel. Eu não devia ter me irritado. Desculpa mesmo.
– Tudo bem. Eu é que sou insistente.
Tentei aliviar a tensão.
– E você? Gostou da festa?
– Na verdade, não muito.
– Foi ruim?
Ele balançou a cabeça.
– Não, a festa estava ótima. Eu só não aproveitei porque fiquei pensando em você, o tempo todo.
Levantei os olhos para ele, surpresa.
– Sério?
– Muito sério. Quando gosto de alguém, não gosto de vê-la triste.
Fiquei sem palavras por alguns segundos, até perguntar, quase sem acreditar.
– Você gosta de mim?
– Você nem imagina o quanto.
Sorri pela primeira vez naquela noite.
– Estou começando a gostar de você, Noel. Nunca tive um amigo tão legal comigo.
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