domingo, 16 de setembro de 2012

Tempos de Colegial Capítulo 58

Sob a luz das escolhas


— Não sei. Para aqui, por favor?
— Claro.
— A gente se vê amanhã, Noel.
— Até amanhã, Emi. 
Mal me despedi de Noel, Sami veio correndo em minha direção, com o rosto alarmado e a respiração ofegante. Com o coração ainda tranquilo da despedida, fui pega de surpresa pelo desespero estampado no rosto dela. As palavras se atropelando na tentativa de se fazer entender.  

— Emi, graças a Deus você chegou! Eu preciso de você, por favor, me ajuda!  
— O que foi? O que aconteceu?!  
— É o Miguel...  
— O Miguel? O que tem ele?  

O olhar dela se desviou, como se estivesse com medo de dizer. A voz, trêmula, parecia lutar contra um turbilhão de emoções.  

— Depois da festa, ele me levou para o apartamento dos pais dele. Aí ele me ofereceu uma bebida.  
— Não me diga que você aceitou!  
— Não, claro que não! Você sabe que eu odeio bebidas alcoólicas!  
— Sei, por causa do seu pai. Mas então? Fala logo, você tá me deixando assustada!  

Ela segurou minhas mãos com força, como se precisasse de apoio para continuar. A primeira lágrima escorreu, trazendo consigo uma dor que eu podia sentir.  

— Emi, ele misturou bebidas com drogas... Eu juro que não sabia! Ele começou a passar mal, ficou pálido, suava demais... Eu fiquei sem chão, não sabia o que fazer! Chamei uma ambulância, mas não me deixaram ir com ele.  
— Meu Deus... E a mamãe? Ela sabe disso?  
— Não! Se ela souber, nunca mais vai me deixar chegar perto dele.  

Suspirei fundo, tentando organizar os pensamentos. Era como se um nó estivesse formado em minha garganta.  

— E os pais dele? Você avisou?  
— Sim. Eles me disseram que ele tinha parado há um mês, mas teve uma recaída.  

As lágrimas já não podiam ser contidas. Ela estava devastada, e minha irmã parecia tão frágil naquele momento que tudo o que pude fazer foi abraçá-la.  

— Olha, temos um pouco de tempo antes da mamãe ligar. Vamos ao hospital. Vemos como ele está e amanhã, depois da aula, voltamos lá. Está bem?  
— Vamos, Emi, por favor.  

Caminhamos lado a lado, o silêncio entre nós carregado de preocupações. Antes de chegarmos, ainda arrisquei:  

— Não conta nada pra mamãe, ok? Você sabe como ela é. Se descobrir que ele usa drogas...  
— Usava!  
— Certo, que seja! Mas ela vai proibir você de vê-lo, você sabe disso.  
— Eu sei, eu prometo que não vou contar.  

Havia uma firmeza na voz dela, apesar das lágrimas secadas às pressas. A noite parecia mais pesada, como se o mundo conspirasse para transformar aquele momento em uma memória inesquecível.  

No hospital, fomos informadas pelo médico que Miguel teve uma overdose, mas, graças ao rápido atendimento, sua vida fora salva. Ele ficaria em observação, e isso trouxe um pequeno alívio ao coração já tão atribulado de Sami. Decidimos ir para casa antes que mamãe desconfiasse de algo.  

Na volta, o silêncio foi quebrado apenas pelo barulho distante da cidade. Havia algo diferente em Sami. Talvez o susto, talvez a intensidade da situação, mas sua postura parecia mais firme, como alguém que, apesar do sofrimento, escolhe seguir em frente. Naquela noite, entendi que as dores nos transformam, e que, mesmo nos momentos mais difíceis, existe um espaço para a coragem florescer.

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