Gritos Silenciados
Mamãe já sabia do que tinha acontecido. Ela brigou conosco, e sua voz ressoava como um trovão pela casa. Foi categórica ao dizer que Sami estava proibida de ver Miguel. Era previsível, mas não menos revoltante.
— A senhora não pode fazer isso! — protestei, sentindo a indignação ferver dentro de mim.
— Quem disse? Eu sou sua mãe! E estou dizendo que a Sami não vai mais ver esse garoto! — respondeu ela, a voz carregada de uma autoridade implacável.
— Eu não vou deixar a senhora estragar minha vida como tentou fazer com a da Emi! — gritou Sami, os olhos faiscando de determinação. — Eu amo o Miguel e vou fazer o possível e o impossível pra ficar com ele!
— Você não vai mais ver esse garoto, nem que eu tenha que te vigiar noite e dia! — Mamãe retrucou, com um tom cortante como uma lâmina.
Meu coração doía por Sami, mas também por todas as vezes em que senti a mesma pressão sufocante.
— A senhora não vai fazer isso com ela! — minha voz tremeu, mas não de medo, e sim de raiva.
— Vai pro seu quarto, Emília! — gritou ela, perdendo de vez a paciência.
— Não! Eu não vou! Chega dessa mania de querer controlar nossas vidas! Nós temos o direito de amar e namorar quem quisermos! — retruquei, com lágrimas de raiva brotando nos olhos.
— Minha filha não vai namorar um viciado! — declarou mamãe, seu tom impiedoso.
— CHEGA! O Miguel não é um viciado! Ele só teve uma recaída! — gritou Sami, com a voz quebrada pela emoção.
— Não importa! Ele é uma má influência pra você, e ponto final! — decretou mamãe, com a firmeza de uma sentença irrevogável.
— A Sami não é mais criança, mamãe. Ela sabe o que é certo e errado. — Minhas palavras tentaram furar o muro de determinação dela, mas eu sabia que era inútil.
— Eu já mandei você ir para o seu quarto! — berrou ela novamente, e antes que eu pudesse reagir, segurou meu braço com força.
Fui arrastada até o quarto e trancada lá dentro. O som dos gritos de Sami ecoava pela casa, um duelo verbal que cortava o silêncio da noite. Senti um aperto no peito. Não podia ficar ali. Corri para a janela, abri-a com cuidado, mas ao tentar descer quase caí. Por sorte, Kássio apareceu e me ajudou, mas a confusão estava longe de acabar. Para piorar, Noel surgiu logo em seguida.
— Emi, o que você está fazendo com esse cara? — disparou Noel, com o tom repleto de ciúmes.
— Esse cara tem nome! — Kássio rebateu, cruzando os braços de forma desafiadora.
— Não me interessa o seu nome! Não perguntei pra você! — devolveu Noel, elevando o tom.
— PAREM! — gritei, exasperada. — Eu estou com um problemão, e vocês dois estão criando mais um!
— O que aconteceu, Emi? — perguntou Kássio, com um olhar preocupado.
— Obrigada por me ajudar, mas eu não quero falar com você. — Minha voz foi firme, mas carregada de exaustão.
— Não faz isso, Emi... — implorou ele.
— Ela já disse que não quer falar com você! — Noel interveio, provocando ainda mais.
— Para de se meter na nossa conversa! — devolveu Kássio, visivelmente irritado.
— BASTA! Estou exausta! Vou pra casa ajudar a Sami. — Disse com firmeza, mas não sem dor.
Antes que eu pudesse sair, Kássio me deteve: — Emi, por favor, só me dá um minuto pra falar com você.
— Tudo bem, mas só UM minuto! Com licença, Noel.
— Toda. — respondeu Noel, relutante.
— Emi, eu não quero ficar brigado com você. Por favor, me dê a chance de ser seu amigo.
— Não sei se quero ser sua amiga. — confessei, cruzando os braços.
— Por favor, Emi, como amigos podemos nos conhecer melhor. — Ele parecia sincero, e isso me desarmou um pouco.
— Tudo bem, mas só se você parar de brigar com o Noel.
— Faço isso por você. Quero estar perto de você.
Foi então que ouvi um grito. Virei-me e vi Sami correndo para longe da casa, com mamãe tentando segurá-la, mas sem sucesso. Quando percebi o carro vindo em alta velocidade, meu coração congelou. Tudo aconteceu tão rápido. O impacto foi brutal, e naquele instante, um grito uníssono de horror preencheu o ar.
Chamamos a ambulância, mas o estado de Sami era grave. A noite, que já parecia insuportável, mergulhou em um abismo ainda mais escuro.
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