Daniel estendeu a mão hesitante através do espaço íntimo que os separava, seus dedos encontrando os de Mila. Por um breve instante, suas mãos se uniram, um elo silencioso se formando. Então, com uma ternura crescente, suas mãos deslizaram para a cintura dela, puxando-a para mais perto, até que seus corpos se roçaram suavemente. Ele roçou seu rosto contra a maciez da face dela, buscando o néctar de seus lábios. O beijo veio lento, quase reverente, e uma onda de calor desconhecida, intensa e doce, irradiou dos lábios de Mila, tingindo suas bochechas de um rubor apaixonado.
Com um suspiro hesitante, Mila afastou seus lábios dos dele, seus pulmões implorando por ar. Seus dedos se emaranharam nos cabelos negros de Daniel, puxando-o de volta para ela, faminta por mais. O segundo beijo foi mais urgente, uma chama mais intensa dançando em seus lábios, acendendo um fogo similar no peito de Mila. Uma revoada de borboletas agitadas promoveu um turbilhão em seu estômago, roubando-lhe o fôlego mais uma vez. Ela se afastou, ofegante, e os lábios quentes de Daniel encontraram o vale macio de seu pescoço, deixando ali um rastro de calor. Aquele momento mágico foi abruptamente interrompido pelo toque estridente de um celular. Os lábios de Daniel se separaram dos dela, deixando um vazio súbito.
— Meu telefone está tocando... — Mila murmurou, a voz ainda embargada pela recente torrente de sensações.
— Atenda. Eu espero lá fora. A voz de Daniel era um sussurro rouco, carregado de expectativa.
— Alô? Tio?! O que aconteceu? A preocupação tingiu a voz de Mila.
— A dona Maura me ligou... disse que o Daniel ouviu um barulho aí em casa. A voz do tio Lucas ecoava preocupada do outro lado da linha.
— Barulho? A testa de Mila se franziu.
— Sim. Está tudo bem com você? A pergunta carregava um peso de apreensão.
— Está sim, tio. Não se preocupe. Foi só o gato da vizinha... fugindo de um cachorro. A explicação soou um pouco apressada.
— Como você sabe? Dona Maura disse que você estava dormindo. A desconfiança era evidente na voz do tio.
— Ela se enganou, tio Lu. Eu não queria incomodá-la porque ela estava tão cansada, que acabou dormindo no sofá. Então subi pro meu quarto para me deitar. Mila tentava manter a voz calma.
— Ela disse que o Daniel estava aí em casa. O que ele estava fazendo aí? A pergunta era direta, acusatória.
— Eu não sei, titio... eu não o vi. A mentira deslizou por seus lábios com um nó na garganta.
— Ok, então boa noite. O tom do tio Lucas ainda era hesitante.
— Boa noite, tio Lu. O senhor vem para casa ainda hoje? Havia uma ponta de esperança na voz de Mila.
— Provavelmente não. Eu tenho que desligar, a gente se fala quando eu chegar. Tchau. O tio Lucas encerrou a ligação abruptamente.
— Tchau, tio. Boa noite. — Essa dona Maura... o que tem de chata tem de fofoqueira! Acredita que ela contou ao meu tio que você estava aqui? — Mila disse, um misto de irritação e diversão colorindo sua voz enquanto Daniel retornava ao quarto.
— Eu tenho que ir agora. A urgência na voz de Daniel contrastava com o desejo em seus olhos.
— Ah, não... fica só mais um pouquinho. O pedido de Mila era um sussurro carregado de súplica.
— Não posso. Tenho que acordar cedo amanhã. A responsabilidade o chamava.
— Lá na festa você não tinha que acordar cedo. A ironia na voz de Mila era um reflexo de sua decepção.
— Lá na festa eu estava com você... e não podia te deixar sozinha. Quero esclarecer uma coisa com você, Mila. Eu não sou do tipo pegador, entende? Quando gosto de uma garota, não perco tempo com aventuras vazias. Se estou aqui com você, é porque eu gosto de você... de você e de mais nenhuma outra garota. É com você que eu sempre quero estar. Se fôssemos as únicas pessoas no mundo, eu não sentiria falta de mais ninguém, porque com você... eu me sinto completo. A intensidade das palavras de Daniel pairou no ar.
— Uau! Isso foi... intenso! — Mila disse, a ponta dos dedos roçando suavemente o rosto dele. — Desculpe-me, eu não queria insinuar nada de errado. Acontece que eu tenho o dom de falar besteira... Quando chegamos à festa e todo mundo ficou olhando, eu fiquei muito feliz. Não porque disseram que eu estava linda, mas porque eu estava com você. E todos viram que eu estava com você. Eu queria que todos vissem que você era meu. A confissão de Mila era um fio de vulnerabilidade.
— Eu também senti o mesmo. Não quero que você tenha ciúmes, Mila. Eu não te dei motivos para isso e jamais daria. A sinceridade de Daniel era um bálsamo para a insegurança dela.
— Eu sei que não devo... mas quando te vi com... ela... Senti como se perdesse uma parte de mim. Senti-me vazia, incompleta. Eu não sei bem como explicar... só sei que quando estou com você, eu me sinto plena. É como se eu precisasse de você para respirar, meu coração pulsa mais forte quando você está perto. Minha pulsação acelera só de pensar em você. A voz de Mila era um sussurro apaixonado.
As mãos de Daniel encontraram os cabelos macios de Mila, e com seus corações à beira da combustão, eles se beijaram impetuosamente. O calor os atravessou como um turbilhão avassalador enquanto ele puxava o rosto dela para mais perto, seus lábios se fundindo em uma dança urgente. Suas respirações ecoavam altas, quase como um ronco apaixonado.
Seus lábios se separaram novamente, deixando um rastro de calor e desejo.
— Eu tenho que ir agora... — Daniel disse, a voz rouca e entrecortada.
— Tenha doces sonhos, meu amor. O sussurro de Mila era carregado de carinho.
— Vou sonhar com você. Agora é melhor eu ir... senão seu tio não vai gostar nada. Um sorriso triste curvou os lábios de Daniel.
— Essa vai ser uma longa noite... — Mila resmungou, a sonolência começando a nublar seus sentidos.
— Boa noite, Mila. A voz de Daniel era um afago na escuridão.
— Boa noite, Daniel. O eco de sua voz pairou no ar.
Apesar de seus pensamentos ansiosos, o sono envolveu Mila rapidamente, como um cobertor quente. A noite não se arrastou como ela temia. Ela acordou com os primeiros raios de sol, o quarto banhado em uma luz suave e dourada. Seus olhos seguiram fixamente os padrões de luz dançando na janela. O sol já estava alto no céu quando finalmente se decidiu a levantar e preparar o café da manhã.
O som da campainha ecoou pela casa, e o coração de Mila disparou, a imagem de Daniel preenchendo sua mente. Ela correu animada para a porta, ansiosa pelo reencontro, mas a figura que encontrou a surpreendeu.
— Meu amor, você chegou cedo! — exclamou, jogando os braços ao redor da cintura da figura familiar.
— Nossa... quanto amor! Eu também te amo, sobrinha querida. A voz calorosa do tio Lucas a trouxe de volta à realidade.
— Tio Lu?! Eu estava preparando o café da manhã, espero que esteja com fome. Não tinha certeza se o senhor viria tão cedo, então não tem muita coisa além de café, leite e torradas. A decepção era sutil em sua voz.
— Não tem problema, o importante é que finalmente vou poder dar a atenção que você tanto queria. O tio Lucas sorriu, alheio à turbulência interna de Mila.
— Que legal! — Mila forçou um sorriso, a ironia quase escapando. Justo agora!, pensou, o desânimo a invadindo.
— Então, o que você quer fazer? Tirei um tempinho só para você. O tio Lucas parecia genuinamente animado.
— Só para constar... isso não é algum tipo de punição, é? Mila sondou, uma ponta de apreensão em sua voz.
— Punição? Por que eu puniria você? Por acaso você aprontou algo que eu não estou sabendo? O tio Lucas franziu a testa, confuso.
— Não, tio... é que outro dia eu falei que sempre ficava sozinha. De repente, o senhor pode ter se incomodado com isso e... quis me punir. Só isso. Mila tentou soar casual.
— Não, sua tolinha. Eu tirei um dia de folga, e faz tempo que não vejo minha sobrinha favorita. Se quiser, posso te levar ao cinema para ver aquele filme que você está louca para ver. O tio Lucas tentava animá-la.
— Eu já vi esse filme, tio Lu. A resposta de Mila foi monótona.
— Oh, é uma pena. E que tal...? O tio Lucas tentava encontrar uma alternativa.
— Olha, tio... eu aprecio que tenha tirado o dia de folga para me dar um pouquinho de atenção, mas eu já tenho planos e sei que tem uma moça que precisa mais da sua atenção do que eu. — Mila o interrompeu suavemente, apontando para uma fotografia na estante da sala. — Isso mesmo, meu tio querido. A Cíntia já ligou uma porção de vezes. Parece que ela já voltou de viagem.
— Droga! O tio Lucas deixou escapar, o rosto se contraindo levemente.
— Pelo visto, o senhor não gostou da notícia. Mila não pôde deixar de notar sua reação.
— Não é isso... acontece que eu não me lembrei de ir buscá-la no aeroporto. Ela deve estar furiosa. A culpa era evidente em sua voz.
— Que coisa feia, tio Lu! O senhor tirou o dia para ficar comigo e esqueceu-se da Cíntia? Isso não se faz, hein, querido tio! Mila tentou conter o riso.
— Não tem graça, Mila! O tio Lucas revirou os olhos.
— Ah, tem sim! Desculpe-me, tio Lu, mas eu tenho que ir. A gente se vê depois. Mila pegou sua bolsa, a urgência em seus movimentos.
— Espera aí, mocinha! Aonde você pensa que vai? O tom do tio Lucas era agora mais sério.
— Vou sair com a Jéssica. A resposta de Mila foi evasiva.
— Não foi isso que eu perguntei. Eu quero saber aonde você pensa que vai. O tio Lucas cruzou os braços, o olhar inquisitivo.
— Tio querido, eu vou à biblioteca com a Jéssica, porque temos que apresentar um trabalho importante sobre carboidratos, e eu tenho que estar preparada. Mila tentava manter a compostura.
— E você vai à biblioteca usando isso? — O tio Lucas apontou para a saia de Mila, que parecia mais um cinto de tão curta. — Você não vai sair de casa usando minissaia.
— O quê?! Ah, tio Lu, não embaça!! A frustração de Mila era palpável.
— Olha como fala comigo! Eu não quero que você use esse tipo de roupa, ainda mais com esse Daniel circulando pela casa. O tom do tio Lucas era firme.
— O Daniel não fica “circulando pela casa”. O senhor está ficando biruta. É melhor ligar para a Cíntia, porque ela sim precisa da sua atenção. Mila rebateu, a impaciência crescendo.
— Foi você quem disse que estava cansada de ficar sozinha. O tio Lucas lembrou-a de sua própria queixa.
— Estava... do verbo não estou mais. A resposta de Mila era seca.
— Você está muito insolente para o meu gosto. O tio Lucas estreitou os olhos.
— Tio, me dá licença que eu já estou atrasada. Mila tentou encerrar a conversa.
— Tudo bem, mas a gente se acerta na volta. A promessa do tio Lucas pairava no ar.
Mila detestava mentir, e a situação a forçou a uma encruzilhada delicada, uma decisão que poderia abalar seu relacionamento com Daniel. Consciente das possíveis consequências, ela respirou fundo e decidiu revelar a verdade ao tio.
— Já que esse assunto não vai acabar aqui, eu vou lhe contar a verdade, tio. Daniel e eu estamos namorando. E, mesmo que o senhor seja contra, eu não vou deixá-lo, em hipótese alguma. Eu já sou grande e tenho consciência do que é melhor para mim. E tem mais, eu não vou admitir que o senhor venha com caretice para o meu lado. Daniel e eu nos gostamos e vamos ficar juntos, o senhor querendo ou não. A declaração de Mila era firme, desafiadora.
— Nossa... agora eu sei de onde vem tanta petulância! Escuta, Mi, eu jamais atrapalharia a sua vida. Não sou desse tipo de pessoa que fica “embaçando” o namoro alheio. — O tio Lucas disse, esforçando-se para manter a voz calma, embora uma ponta de surpresa ainda pairasse no ar.
— Eu pensei que sim, porque o senhor não queria nem hospedá-lo na nossa casa. Mila confessou sua insegurança.
— Porque eu pensava que ele fosse um completo estranho. E a gente não o conhecia, não sabia nada sobre ele. Ele poderia estar mentindo em tudo o que disse. Mas agora... tenho motivos para não desconfiar dele. O tom do tio Lucas era hesitante, como se ponderasse algo.
— Que motivos? Tio Lu, o que o senhor está me escondendo? A curiosidade de Mila foi despertada.
— Não estou escondendo nada, porque não tenho nada a esconder. Só acho que se ele conheceu sua mãe... não deve ser um garoto ruim. O tio Lucas desviou o olhar brevemente.
— Humm, sei! Fala a verdade, tio Lu. Eu sei que o senhor está mentindo, porque quando mente para mim, você não me olha nos olhos. Mila o confrontou diretamente.
— Mila, eu sou o adulto aqui, então é você quem dá explicações, não eu. Pronto, morreu o assunto! Já que você não precisa da minha companhia, vou procurar a Cíntia e tentar reparar o meu pequeno erro. O tio Lucas tentou encerrar a conversa.
— Pequeno? — Mila perguntou, lutando para não rir da ironia da situação.
— Minúsculo. O tio Lucas fez um gesto com os dedos.
— Boa sorte, tio Lu! Mila não conseguiu conter um sorriso.
— Obrigado, eu vou precisar. O tio Lucas suspirou, resignado.
A tensão pairava no ar, mas a revelação de Mila parece ter amolecido o coração do tio Lucas. Será que ele realmente aceitará o namoro dos dois? Não perca o próximo capítulo para descobrir!