Enquanto o silêncio pairava no ar, Daniel observou as amigas de Mila se afastando apressadas e não conteve o comentário:
— Belas amigas você tem!
Mila, franzindo as sobrancelhas, questionou:
— Do que está falando agora?
Com um tom levemente sarcástico, ele respondeu:
— Você acabou de se machucar e elas nem sequer se preocuparam em te levar ao hospital.
Mila respirou fundo, tentando manter a calma, e replicou:
— Elas sabem que eu não gosto de chamar atenção, principalmente em situações como essa.
Curioso e com um olhar de quem queria entender mais, Daniel insistiu:
— Situações? Que tipo de situações exatamente?
Sem desviar o olhar, Mila disparou:
— Situações como a de agora. Você me atropelou, vai me levar para o hospital e nada mais. Eu detesto quando as pessoas se preocupam comigo, odeio ficar explicando que estou bem e que não preciso de nada.
Confuso e surpreso, ele exclamou:
— Você é mesmo muito estranha!
Mila deu de ombros, um leve sorriso escapando dos lábios.
— Eu sei. O que posso fazer? Esse é o meu jeito, e não estou disposta a mudar.
Daniel a encarou por um momento, intrigado, e concluiu quase como quem pensava alto:
— Estranha... e linda.
Pegando-a desprevenida, Mila ficou vermelha e respondeu de forma rápida:
— Por favor, não confunda as coisas. Você só está aqui porque eu não posso andar direito. Minhas amigas tinham compromissos urgentes, e você foi a única opção para me trazer.
Tentando se justificar, ele rebateu:
— Ei, você sabe que isso não foi minha culpa, certo? Eu não estava em alta velocidade. Na verdade, eu nem conheço bem a cidade, só estava procurando a casa da minha tia… bem, tecnicamente ela não é minha tia, mas é como se fosse.
Antes que ele pudesse falar mais, Mila apontou para a entrada do hospital:
— Chegamos. Eu vou falar com meu tio. Você pode ir embora agora. Muito obrigada e até nunca mais!
Com um meio sorriso, Daniel devolveu:
— Muito bem, até nunca mais!
Sem olhar para trás, Mila foi recebida por um enfermeiro que a ajudou a chegar até o consultório de Lucas, seu tio. Ao vê-la entrar mancando, ele arregalou os olhos.
— O que aconteceu com a minha sobrinha preferida?!
Mila riu fraco:
— Tio, eu sou sua única sobrinha. Foi só um pequeno acidente, nada grave. Meu tornozelo está doendo um pouco, só isso.
Lucas inclinou-se, examinando-a com um olhar atento.
— Como isso aconteceu?
Mila desviou o olhar, sem jeito.
— Eu atravessei a rua sem prestar atenção e um carro me pegou. Mas ele vinha devagar, só não conseguiu parar a tempo.
— E o motorista? Fugiu? — perguntou Lucas, o tom preocupado.
— Não. Ele me trouxe até aqui. Aí eu mandei ele embora — respondeu Mila, com a maior naturalidade.
— Por que fez isso?! — Lucas questionou, franzindo a testa.
Mila suspirou, encarando-o com olhos inocentes.
— Ele já me ajudou o suficiente. Não achei que fosse necessário mais nada.
Lucas cruzou os braços, sério:
— Não é sobre isso. Estou falando de você atravessar a rua sem olhar. Conheço você, Mila. Tem algo mais aí.
Sem saída, Mila confessou, quase rindo:
— Tá bem, tá bem! Eu vi uma bolsa linda numa vitrine do outro lado da rua... Ela parecia estar me chamando, tio!
Lucas deu uma risada debochada.
— Sei!
— É sério! — ela insistiu. — A bolsa dizia “me compra! me compra!” Eu fiquei hipnotizada!
Lucas balançou a cabeça, rindo.
— Ah, Mila... se você não existisse, teríamos que inventar você. Mas chega de conversa. Vamos examinar esse tornozelo.
Depois de alguns minutos, Lucas concluiu:
— Foi um entorse de segundo grau. Seu tornozelo vai ficar imobilizado por três ou quatro semanas.
Mila arregalou os olhos.
— Vou poder andar?
— Com muletas. E depois vai precisar fazer compressas de gelo e fisioterapia para fortalecer o músculo — explicou Lucas.
Mila suspirou, aliviada.
— Ainda bem que você fala a língua dos mortais, tio!
Enquanto Lucas organizava os papéis, ele perguntou:
— E agora? Como vai para casa?
— Não sei — confessou Mila. — Você vai demorar muito por aqui?
— Vou cobrir o plantão de um colega — respondeu ele.
Mila sorriu maliciosamente.
— Tio, acho que você precisa de M.A.
— M.A.? O que é isso? — perguntou ele, confuso.
— Medicólatras Anônimos! — ela disparou, rindo.
Lucas balançou a cabeça, rindo também.
— Ah, Mila... você é demais!
Será que Lucas vai conseguir cumprir a promessa e compensar Mila? Ou ela continuará sendo sua sobrinha espirituosa que dorme sozinha? Não perca o próximo capítulo!
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